A arte sempre teve uma relação íntima com os museus e seus acervos. Especialmente porque estes sempre foram espaços respeitados, dedicados a promover conhecimento e entretenimento ao mesmo tempo.
Mas é interessante saber que, antes de ser estabelecido o conceito de museu como conhecemos atualmente, existiram modelos e concepções anteriores e, dentre eles, os chamados gabinetes de curiosidades.
Nos anos 1500 e 1600, os gabinetes eram um modelo comum e conhecido de exibição de coleções interessantes, embora saiba-se que existiram modelos mais rudimentares de coleções antes dessa época. Eram tidos como oportunidades muito ricas em conhecimentos e, de certa forma, ousados em seus ideais, uma vez que pretendiam reunir em um único espaço o maior número de objetos e exemplares curiosos quanto fossem possíveis.
Os gabinetes de curiosidades exibiam artefatos e espécimes incomuns, que decoravam paredes e tetos das salas onde se achavam expostos. As coleções apresentavam um grande número de antiguidades, objetos de história natural e obras de arte.
Dentre os requisitos fundamentais para as coleções, estavam a raridade e a capacidade de despertar a curiosidade, uma vez que elas podiam ser sinônimo de conhecimento, mas também de status. Dentre os detentores das coleções estavam políticos e aristocratas, mercantis e pessoas dedicadas à instalação da ciência moderna na Europa.
As coleções podiam ser divididas em até quatro categorias, desta forma:
-Naturalia (objetos da natureza e criaturas raras, com atenção especial às que pareciam monstros);
-Artificialia (objetos artificiais criados ou modificados por mão humana, incluindo antiguidades, artes e etc.);
-Exotica (animais e plantas exóticos, especialmente os coletados em lugares distantes);
-Scientifica (habilidades do homem, incluindo invenções como relógios e outros instrumentos).
Objetos trazidos do Novo Mundo tinham uma relevância em particular para as coleções, pois materializavam um mundo recém-descoberto, desconhecido até então. Eram a representação do invisível, do exótico e de certa forma inacessível para a maioria, por pertencerem a povos e terras distantes. Detinham, pois, um novo saber, não pela utilidade dos objetos em si, mas por tornarem tangível o que antes fazia parte apenas do imaginário.
Muitas vezes, as coleções não eram fiéis à realidade, pois muitos exemplares eram manipulados para parecerem criaturas e feras fantásticas. Mas, muito embora o espírito dos gabinetes pudesse não ser precisamente científico, eles contribuíram para o desenvolvimento de uma visão mais científica do mundo, fornecendo material para estudos e pesquisas.
Com o passar do tempo, outras concepções de exposição surgiram, fazendo os gabinetes começarem a desaparecer após os anos 1700, dando lugar a outras instituições e a coleções privadas. Os objetos e exemplares mais notáveis foram transferidos para museus de arte e de história natural, que começavam a ser fundados.
Todavia, os gabinetes de curiosidades tiveram importância indiscutível na promoção de conhecimentos, inclusive para estudos da biologia, por criarem coleções muito valiosas de fósseis, conchas e insetos. Prova disso é que algumas instituições têm recriado esses gabinetes, despertando curiosidade e gerando enorme interesse com suas exposições. Afinal, a apreciação da arte e a busca por novos conhecimentos é algo indispensável, sempre atual e muito necessário.
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